Por Flávio Loureiro
Parece incrível, esta era a chamada de um antigo programa radiofônico, mas é real. Após sofrer uma forte pressão da opinião pública e publicada, ao optar na convocação da seleção por jogadores mais voluntariosos e bem comportados do que técnicos e criativos, por um esquema tático defensivo que se mostrou produtivo ao longo do desempenho da seleção sob a sua direção, estimular manifestações patritotas e nacionalistas em relação a seleção, típicas do período militar, e emitir declarações absurdas sobre fatos históricos que a humanidade repudia, como a escravidão, logo ele cuja mãe é professora de história, veio a redenção de Dunga.
Motivo: o duelo que trava com a TV Globo, após o episódio em que bateu boca com um reporter da empresa, na entrevista coletiva realizada após a boa vitória sobre a Costa do Marfim de 3 a 1.
O que se revelava mais uma grosseria do treinador com a imprensa, que sobrou também para o péssimo juiz da partida e para o craque marfinense, Didier Drogba, o que tem sido a marca do seu comportamento, desvelou-se através da Blogsfera, as chamadas redes sociais de informação (sites, blogs, twitter etc) , uma luta de poder entre o técnico da seleção e os interesses comerciais do mais poderoso grupo de comunicação do país.
A direção da Comissão Brasileira de Futebol (CBF) saiu de cena, impotente para interferir na contenda. Se por um lado é parceira comercial da TV Globo, por outro não pode criar altercação com um técnico, em meio a disputa de uma Copa do Mundo.
A despeito do juizo que se faz do trabalho e do personagem Dunga, o episódio ganhou contornos de uma disputa bíblica de David contra o Golias.
Como fica claro para o cidadão comum quem representa quem nesta contenda, ao mesmo tempo em que há uma certa antipatia em relação ao hegemonismo da TV Globo na transmissão de jogos brasileiros, que para garantir a sua programação compra os direitos de transmissão e impõe que os jogos sejam marcados em horários totalmente impróprios para o público e para os próprios jogadores, a balança acaba pendendo a favor de Dunga, o anão, o David. (segue enquete realizada pelo Uol Notícias)
Uma pena que na imprensa esportiva, inclusive entre alguns concorrentes da TV Globo, como a ESPN dos bravos José Trajano e Juca K!fouri, do sempre crítico Fernando Calazans, que também assina coluna esportiva no jornal O Globo, logo ela, uma das principais vítimas falta de relação isonômica na transmissão esportiva do país em favor da TV Globo, no tratamento do episódio se restrinja a um indisfaçável corporativismo jornalístico – “Alex Escobar (o jornalista pivô da crise), é um cara legal, tranquilo”- , às grosserias indesculpáveis do técnico da seleção brasileira e dispense uma citação discreta e de passagem sobre o que está por trás da disputa.
Mais não se iludam, o impéria vai contra-atacar, a despeito do desempenho da seleção brasileira na Copa Mundial de Futebol. Sugiro a leitura do bom, mas incompleto por não ir a fundo na interpretação das razões da contenda, artigo do jornalista Eliakim Araújo, que postamos a seguir:
Eliakim Araújo: a TV Globo é tão poderosa quanto vingativa
Ninguém morre de amores pelo Dunga. Folgado, provocador, birrento e geralmente mal educado, embora não se possa negar sua dedicação ao ofício de treinador da seleção nacional. Dunga está na berlinda nesta segunda-feira depois de sua explosão de maus modos com um repórter da Globo que falava ao telefone enquanto ele respondia perguntas de outros repórteres na coletiva de imprensa após o jogo com a Costa do Marfim.
Por Eliakim Araújo
Se Dunga é esse poço de grosseria, por outro lado é uma verdade indiscutível que boa parte dos jornalistas brasileiros se acham (é plural mesmo) acima do bem e do mal, se julgam superiores ao comum e mortal ser humano, sobretudo a garotada mais nova. Se acham donos da verdade, os sabichões. Falam o que querem de pessoas ou instituições que não dispõem de um espaço na mídia para se defender.
Esse breve perfil do jornalista brasileiro ganha novos contornos quando falamos daqueles que trabalham na Globo. Esses chegaram ao Olimpo e o crachá que usam muitas vezes abre portas proibidas aos jornalistas de outras emissoras. É comum que tenham prioridade em entrevistas e eventos. Os demais ou são preteridos ou têm que esperar até que o bambambã global termine seu trabalho.
Não só a Globo, como as demais emissoras fazem vista grossa quando seus profissionais conseguem superar a concorrência mesmo que façam uso de expedientes aéticos.
Todo mundo se lembra do que a Globo fez com Leonel Brizola. Durante seu primeiro mandato no estado do Rio de Janeiro, de 1982 a 1986, não havia um só dia em que o velho Cid Moreira, com sua grave e empostada voz, não abrisse o noticiário da cidade com a célebre frase: “A violência no Rio”. E aí vinham as estatísticas das ocorrências policiais da cidade naquele dia.
Isso era feito diariamente, um verdadeiro massacre, que resultou na derrota de Brizola na eleição presidencial de 89, por um lado. Por outro, no esvaziamento econômico do Rio com a fuga de empresas para São Paulo. A campanha do JN foi tão perfeita que até hoje muita gente desinformada de SP, ou até mesmo do Rio, prefere simplificar: “Ah, quem acabou com o Rio foi o Brizola”.
Não sabemos exatamente o que aconteceu entre Dunga e o repórter da Globo, é preciso investigar se já havia alguma animosidade entre os dois em razão de incidente anterior, é regra do bom jornalismo ouvir as duas partes. De qualquer maneira, Dunga se meteu numa encrenca daquelas. E a Globo é implacável com seus adversários.
Desde já o emprego dele está ameaçado. Se o Brasil ganhar a Copa, ele talvez se salve pelo gongo. Se perder, tá ferrado. Vai ter que procurar emprego. Mas em qualquer hipótese, será difícil sua permanência no cargo. A turma da CBF não tem peito para enfrentar o poderio econômico e político dos irmãos Marinho.
Fonte: Direto da Redação
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