sábado, 14 de agosto de 2010

Sobre a corrupção, a eleição e o ‘estrondoso’ silêncio

A Promotoria de São Paulo esquadrinha uma quadrilha que se especializou em beliscar o prato da garotada.
Desviam-se verbas da merenda escolar. Em dois anos, foram mordidos pelo menos R$ 280 milhões.
A coisa envolve funcionários de 35 prefeituras e empresas fornecedores de merenda. Suspeita-se do envolvimento de prefeitos e secretários.
De um lado, ajeitam-se as licitações. Do outro, pagam-se as propinas –de 5% a 15%. A mutreta se espraia por prefeituras de outras partes do país.
Sob esse cenário, em que o furto alcança até o estômogo das crianças, a corrupção foi como que banida do debate eleitoral de 2010.
Violação de cofres públicos, como se sabe, é coisa encontradiça em várias partes do mundo. Quase todas no Brasil.
Numa rodinha de chope, se o amigo fala em corrupção, é difícil mudar de assunto. Muda-se, no máximo, de corrupto.
A despeito disso, o tema sumiu da agenda partidária. Compreensível. Já não há mais freiras no bordel.
Hoje, não se pode mais mencionar apenas o nome do escândalo. É imperioso citar também o sobrenome.
Há o mensalão do PT federal, o mensalão do DEM de Brasília, o mensalão do PSDB de Minas...
No PMDB, há a calva dissimulada de Alagoas, a sobrancelha assanhada do Pará, o bigode indestrutível do Maranhão...
Chega-se a uma inescapável conclusão: o Estado brasileiro entrega-se a um esforço diuturno para provar aos cidadãos que não existe mais coisa nossa.
Agora só há Cosa Nostra. Sob o silêncio, misturam-se, em amistosa cumplicidade, culpados inocentes e inocentes culpados.

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